A MULTIPLICAÇÃO DAS PÉTALAS

A cidade renasce. É festa, rezas, novenas e benditos. A procissão se arrasta como uma cobra gigantesca pelas vielas estreitas da cidade cobertas com folhas coloridas das arvores. Os anciões    aguardam a chegada do altíssimo sentados em frente a porta da paróquia. As donzelas juramentadas  e solteiras ariscam um flerte através do véu que cobria suas cabeças, enquanto os rapazes passivam sobre as calçada dos bares com seus chapéus de massa e suas calças boca de sino. A banda de musica aposta sobre os degraus da paróquia anuncia a chegado do Padre em frente a um andor nos ombros cansados de seus guardiões em trajes de gala. Fogos de artifícios, gritos, louvores e aplausos ecoam no interior da pequena Igreja. Um coral, formado pelas beatas dá seqüência à celebração. E um pequeno grupo de senhoras lateralmente enfileiradas, dão conta dos trajes curtos das moças donzelas que estão interessadas nos rapazes com suas calças listradas e seus cabelos umedecidos com a mais pura brilhantina afinal, a televisão esta exposta nas praças e dela importamos a modernidade do século, é ascensão dos Beatles, John Travolta, Irmãos Coragens, é a força da eletricidade recém chegada a cidade. A celebração chega ao ponto máximo e pétalas de rosas caem sobre as cabeças dos fiéis e acompanhado com as pétalas do rosas uma chuva de "merda" que borra os ternos de linho branco e os vestidos de renda das senhoras. Um tumulto foi formado, podíamos ouvir as beatas mais fervorosas clamarem “é castigo morreremos coberto por merda é o fim dos tempos, é a besta fera, perdoai-nos, perdoai-nos”. Teve beata que desmaiaram, outras confessaram que traíram seus maridos. Nesse momento alguém grita “foi ela, foi ela!” e o mistério se desvenda. Uma jovem em uma sena de ciúmes coloca-se na parte mais alta da Igreja e com um saco plástico furado, cheio de "merda" tenta atingir seu desafeto, mas por ser estrábica (zanolha) não consegue visualizar o alvo com precisão e banha com fezes os fiéis o Padre as paredes e todas as imagens sacras expostas na paróquia.
Autor: M.M

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